Violência Obstétrica

terça-feira, 1 de outubro de 2013
Hoje vamos falar um pouco sobre este assunto que no Brasil tem acontecido com muita frequência, uma em cada quatro mulheres sofre violência obstétrica, e por não se falar muito no assunto muitas mulheres não tem noção de que foram vítimas, já que pensam que algumas atitudes e procedimentos são "normais" na hora do parto.

Você sabe o que é violência obstétrica? Muitas de nós mães passamos por ela e não nos demos conta disso. Eu mesma sofri violência nos meus dois partos. Ainda não me sinto a vontade para falar e escrever sobre o assunto.

O objetivo deste post é que você que está grávida ou ainda você que conhece alguém que está se informe e não passe por isso. Informação é tudo! Fique atenta, exija seus direitos!

Selecionamos alguns tipos de violência obstétrica, saiba como agir.

- Cesárea sem necessidade ou melhor: a DESNEcesárea

- Proibir a presença do pai na hora do pré-parto, parto e pós parto

- Amarrar os braços na mãe, no caso de cesárea

- Agressão verbal e física

-  Realizar procedimentos médicos sem o consentimento da mãe

- Piadinhas, comentários maldosos e/ou preconceituosos

- Ruptura da bolsa como procedimento de rotina

- Realizar exame de toque com frequência

- Proibição da mãe manifestar suas emoções durante o parto

- Proibir a mãe de escolher o tipo de posição no caso de parto normal

- Realizar a episiotomia (cortar a vagina) quando não há necessidade

- Afastar o bebê da mãe logo após o nascimento por um muito tempo, entre outros...

Hoje temos também o depoimento da minha amiga Ana Duarte Nascimento, do blog EntãoVirei Mãe, que narra como foi a violência obstétrica que sofreu. O depoimento original está disponível aqui.

Segue o depoimento da Ana.

RELATO DE "NÃO - PARTO" DE ANA DUARTE NASCIMENTO

Vou contar pra vocês um pouco do que eu passei sem ter noção do que era violência obstétrica:

Escolhi para obstetra uma moça que se dizia a favor do parto normal, desde que estivesse tudo bem com mãe e bebê. Não sabia que esse papinho era coisa de cesarista.
Eu disse desde a primeira consulta que fazia questão do parto normal, pois tinha muito medo da cirurgia e preferia sentir horas de dor no trabalho de parto do que dias e dias de dor num corte profundo. E ela "concordava".
Pois bem, tive uma gravidez muito tranquila, sem nenhuma alteração nos diversos exames a que fui submetida, (inclusive, num desses exames, o de streptococcus, tive uma certa dificuldade pra me levantar, visto que já estava com 35 semanas e embora minha barriga realmente não estivesse tão grande, pesava, no entanto, a enfermeira que me atendeu no laboratório me falou: "vamos, minha filha, levanta que sua barriga nem está tão grande assim!"), não inchei, não caiu cabelo, não tive infecções, alterações na pressão, na glicemia, enfim, tudo dentro do esperado. 
Mesmo assim, não houve sequer uma consulta em que eu não passasse por exame de toque, e os mesmos passaram a doer depois das 35 semanas. Em cada toque ela me dizia: "você sabe que tem um tal de um osso mais baixo, né? (não sei que raio de osso é esse) talvez eu tenha que baixar muito o seu períneo." Eu respondia que desde que eu tivesse meu parto normal, era preferível um corte mais "simples" do que um cortão no meio da barriga. (Depois entendi que ela tem por hábito fazer episiotomia, só pra tornar as coisas mais rápidas)
Minha DPP era pra 17/07/2012 e ela me disse que não deixava passar das 40 semanas, pois era muito arriscado. 
Resultado: passava as semanas super ansiosa por alguma alteração, uma contração, qualquer coisa que me dissesse que meu corpo e o bebê estavam prontos, que eu podia ficar sossegada, mas isso não ocorria.
No dia 10/07, tive mais uma, consulta "fofa", onde ela verificou que nada havia mudado, então eu entrei em pânico e comecei a chorar, pois o que eu mais temia estava acontecendo - eu ia pra faca. Ela me tranquilizou e disse: "vai pra casa, você ainda tem mais uma semana, até lá as coisas podem mudar.", e me passou uma porção de exercícios pra fazer o "bebê descer". Marcou minha consulta pro primeiro horário do dia 17, pra ver como as coisas haviam evoluído e lá fui eu, cedinho, esperançosa. Foi o toque que mais doeu na face da Terra e ela me disse: "Por Deus que não tem nenhuma evolução, eu tentei passar o dedo pra estourar a sua bolsa, mas seu colo está fechadíssimo. Se você tivesse alguma dilatação, eu estouraria sua bolsa e induziria o parto, mas corria o risco de você dilatar os 10 cm necessários e não conseguir por causa do seu osso. O que você quer fazer? Te dou mais 3 diazinhos, se você quiser!" Adivinha o que eu escolhi? E lá fui eu pegar a ficha de internação. Ouvi as instruções e vim pra casa chorando. 
Chegando na maternidade, fui dar entrada na papelada e isso demorou horrores, tanto que deu tempo até de eu visitar uma amiga que havia ganhado bebê ali pela manhã. Esperei tanto, que nem fui para o quarto, fui direto pro pré anestésico e lá fiquei um tempão, morrendo de fome e prestes a passar mal a qualquer momento, pois tenho hipoglicemia e a cirurgia foi marcada pras 18h00, mas já eram 19h30, mais ou menos. Finalmente vieram me buscar e às 20h00 em ponto, meu filhote nasceu, mas fiquei bem pouco tempo com ele, me apagaram, me costuraram e eu fui pra recuperação.
Às 23h00 me levaram pro meu quarto e na hora das enfermeiras me passarem da maca pra cama, pedi um pouco de calma, pois não conseguia dobrar a barriga, uma delas respondeu: "levanta assim mesmo."
Fiquei esperando pelo meu filho e nada. À 01h00 da manhã me trouxeram meu bebê "sonado" para a primeira mamada no seio (já havia tomado fórmula, claro) e a enfermeira que veio me "auxiliar" com a pega correta perguntou: "você trouxe bico de silicone? Então põe, porque seu filho não vai pegar um mamilo desse jeito, seu seio não foi feito pra amamentar." (Tenho bicos planos)
Nenhuma outra enfermeira que entrou no quarto me ajudou com a pega direto no seio e ainda diziam "nossa, que bom que ele se adaptou ao bico de silicone."
Sem contar que a cada troca de plantão, ficava sem meu bebê comigo, pois ele foi considerado PEQUENO PARA A IDADE GESTACIONAL  e estava com icterícia, então tinha que tirar sangue pra verificar glicemia e bilirrubina toda hora, sendo que mantive a glicemia dele ótima só com meu leite e a icterícia foi embora uns 2 dias depois que chegamos em casa.
Esses dias, olhando a papelada da maternidade onde meu filho nasceu, a confirmação de algo que eu já suspeitava apareceu: nem com 40 semanas eu estava: estava com 39!!!(pelo peso que ele nasceu, acredito que ele iria tranquilo até umas 42 ou mais)
Dói contar, mas ao mesmo tempo liberta, pois posso, através desse relato, informar mulheres para que não passem pelo mesmo tipo de violência que eu sofri.

Esperamos ter ajudado!



Por: Vívian Duarte

2 comentários:

  1. Triste saber que existem pessoas insensíveis, principalmente na área da saúde, e fazem de um momento tão delicado e especial como este, parecer uma tortura. Olhando este documentário chego a conclusão de que também passei por algumas coisas parecidas com as que vcs descrevem! Parabéns pela matéria e que as mamães futuras possam ficar mais atentas não aceitando tudo o que lhes impõem e que os papais futuros também tomem conhecimento para protegê-las num momento em que se encontram tão frágeis.

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    1. Obrigada pelo comentário! É muito importante a informação principalmente neste momento extremamente sensível para a mãe e para o bebê. Você também lembrou de uma coisa importante, os pais também devem se manter atentos e exigir os seus direitos!

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